sábado, 24 de outubro de 2015

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

o nosso amor a gente inventa...

Rua Sete de Setembro, Vitória ES


















"O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
e o meu, poesia de cego
você não pode ver..."

Centro , Vitória ES
Centro, Vitória ES

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

foi... já era...

Pixação muro de condomínio em Jardim da Penha
 Vitória ES
Se há um conceito que eu gosto na arte de rua é a sua perenidade ... quando a arte ousou sair do Museu tornou-se, por consequência, “pública”. A adoção dos espaços públicos imprime novas questões: a imperceptibilidade da obra de arte como tal, o artista-anônimo, a efemeridade da obra e a sua dissolução na cidade. A obra, antes substantivo/objeto, constitui-se agora como verbo/processo, uma vez que a relação entre a arte e o lugar não se dá mais pela permanência física, mas pela experiência da impermanência...

Há, na arte de rua, a percepção de uma data de validade. Há a noção de que somos todos substituíveis, finitos. Há uma sugestão do nosso tempo atual em que as pessoas não idolatram obras de pintores... 
Ou não... tem sempre alguém $$$ querendo quebrar o muro e levar um Banksy para casa...

É preciso romper com a ideia original de que “remover o trabalho é destruir o trabalho”... O artista utilizou a “linguagem da cidade” para provocar o exercício da reflexão num público anestesiado. Por que o próprio artista deseja manter a “aura” do objeto por ele produzido?

À rua é preciso propor... nada mais... Não devemos corrigir o pedestre-espectador, nem mudar seu ritmo, que deve continuar com o trato da paisagem cotidiana...

A rua não aceita ideias nem teorias estranhas a si mesma. Arte de rua não é colocar o velho para tomar sol ...  A não existência da obra, a não necessidade de estar presente, a efemeridade de estar, a possibilidade “aberta” de concretizar atos diferentes dos propostos nos converte a todos em criadores.

A obra desencadeia, não limita...  como afirma Duchamp “é o espectador quem faz a obra”. O significado de uma obra de arte reside não na sua origem, mas na sua destinação... 

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

o verbo no infinito...



O verbo no infinito

Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...

Vinicius de Moraes Livro de sonetos.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

neurose...

(O Trágico dilema)

Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.

Mário Quintana


domingo, 12 de julho de 2015

Consumindo a vida...

Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, no livro “Consuming life” analisa a sutil e gradativa transformação das pessoas em mercadorias. A própria subjetividade vira mercadoria.


“A ‘subjetividade’ do sujeito, e a maior parte daquilo que essa subjetividade possibilita ao sujeito atingir, concentra-se num esforço sem fim para ela própria se tornar, e permanecer, uma mercadoria vendável” (Bauman, 2008, p. 20).


Bauman examina ainda o impacto da conduta consumista em diversos aspectos da vida social: como a despolitização da esfera pública, a substituição do cidadão pelo consumidor, e a crescente individualização da identidade.





“Numa sociedade de consumidores, tornar-se uma mercadoria desejável e desejada é a matéria de que são feitos os sonhos e os contos de fadas” (BAUMAN, 2008, p.22).

O artista canadense I Heart espalhou pelas rua de Vancouver uma série de stencils críticos sobre a obsessão pelo mundo virtual.

I Heart
I Heart
I Heart
Bauman, Zygmunt. A Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

domingo, 31 de maio de 2015

cidades invisíveis... sujeitos invisíveis...

Em As cidades invisíveis, de 1972, Italo Calvino nos conta que “cada cidade recebe a forma do deserto a que se opõe”, mas não seria verdade afirmar que cada cidade recebe a forma do sujeito a que se opõe? 




 

 

 

sexta-feira, 15 de maio de 2015

... pensa que sou eu?

O olho da rua vê
 o que não vê o seu. 
Você, vendo os outros,
 pensa que sou eu? 
Ou tudo que teu olho vê 
você pensa que é você?
 (LEMINSKI, 1990)

quarta-feira, 6 de maio de 2015

vemödalen...


Vemödalen: frustração de fotografar algo sensacional... 
quando milhares de outras fotos iguais já existem...

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

... debaixo da ponte...


Debaixo da Ponte

Moravam debaixo da ponte. Oficialmente, não é lugar onde se more, porém eles moravam. Ninguém lhes cobrava aluguel, imposto predial, taxa de condomínio: a ponte é de todos, na parte de cima; de ninguém, na parte de baixo. Não pagavam conta de luz e gás, porque luz e gás não consumiam. Não reclamavam contra falta d’água, raramente observada por baixo de pontes. Problema de lixo não tinham; podia ser atirado em qualquer parte, embora não conviesse atirá-lo em parte alguma, se dele vinham muitas vezes o vestuário, o alimento, objetos de casa. Viviam debaixo da ponte, podiam dar esse endereço a amigos, recebê-los, fazê-los desfrutar comodidades internas da ponte.


À tarde surgiu precisamente um amigo que morava nem ele mesmo sabia onde, mas certamente morava: nem só a ponte é lugar de moradia para quem não dispõe de outro rancho. Há bancos confortáveis nos jardins, muito disputados; a calçada, um pouco menos propícia; a cavidade na pedra, o mato. Até o ar é uma casa, se soubermos habitá-lo, principalmente o ar da rua. O que morava não se sabe onde vinha visitar os de debaixo da ponte e trazer-lhes uma grande posta de carne.



Nem todos os dias se pega uma posta de carne. Não basta procurá-la; é preciso que ela exista, o que costuma acontecer dentro de certas limitações de espaço e de lei. Aquela vinha até eles, debaixo da ponte, e não estavam sonhando, sentiam a presença física da ponte, o amigo rindo diante deles, a posta bem pegável, comível. Fora encontrada no vazadouro, supermercado para quem sabe frequentá-lo, e aqueles três o sabiam, de longa e olfativa ciência.

Comê-la crua ou sem tempero não teria o mesmo gosto. Um de debaixo da ponte saiu à caça de sal. E havia sal jogado a um canto de rua, dentro da lata. Também o sal existe sob determinadas regras, mas pode tornar-se acessível conforme as circunstâncias. E a lata foi trazida para debaixo da ponte.

Debaixo da ponte os três prepararam comida. Debaixo da ponte a comeram. Não sendo operação diária, cada um saboreava duas vezes: a carne e a sensação de raridade da carne. E iriam aproveitar o resto do dia dormindo (pois não há coisa melhor, depois de um prazer, do que o prazer complementar do esquecimento), quando começaram a sentir dores.

Dores que foram aumentando, mas podiam ser atribuídas ao espanto de alguma parte do organismo de cada um, vendo-se alimentado sem que lhe houvesse chegado notícia prévia de alimento. Dois morreram logo, o terceiro agoniza no hospital. Dizem uns que morreram da carne, dizem outros que do sal, pois era soda cáustica.

Há duas vagas debaixo da ponte.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Debaixo da ponte. In: Obra Completa,Rio de Janeiro: José Aguilar Editora, 1967, p. 896-897.


Debaixo da Ponte Ayrton Senna, que une o bairro de Jardim da Penha (parte continental) ao bairro Praia do Canto (na ilha) em Vitória, ES.